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sábado, 12 de setembro de 2015

IV ESPELEOAMIGOS - AVENTURAS EM PARIPIRANGA E O REALISMO MÁGICO.

O Realismo mágico é definido como o que acontece quando uma situação realista é invadida por algo que é estranho demais para acreditar. Sob esse ponto de vista qualquer crônica espeleológica é um realismo mágico por definição. Uma vez que o imponderável é uma constante e acontecimentos improváveis e privações sensoriais faz com tenhamos uma percepção da realidade beirando a fantasia.


Algo estranho acontecia a uma dúzia de espeleólogos nas profundezas de uma caverna extremamente quente e úmida chamada gruta do Bom Pastor. Não sabemos dizer ao certo se foi o cheiro do carbureto, se foi o longo tempo de espera para fazer as fotografias ou o simples cansaço de fazer a travessia pelo trecho conhecido como labirinto, que exige um grande desgaste físico!

Último salão da Gruta do Bom Pastor. Paripiranga - Ba. Foto: Mateus Henrique.


Ao saírem esbaforidos, sujos e letárgicos os espeleólogos se aglomeraram na caçamba de uma caminhonete S10. E durante os 20 min que levava do povoado onde se encontra a gruta do Bom Pastor ao centro da cidade de Paripiranga, uma ideia tomou forma e sentido no imaginário da turma. A ideia das cavernadas em universos paralelos.

Pré exploratório Gruta do  Bom Pastor.
Pós exploratório - Gruta do Bom Pastor.


Segundo a física moderna: Há regiões no universo que foram inflacionadas no passado e que criaram matéria e energia, mas ainda existem regiões que estão inflacionando e que devem gerar, em algum momento, mais matéria e radiação, criando novos universos. Esse mar de universos é chamado de Multiverso. 

São tantos os universos paralelos que, em algum deles, existe outro você, vivendo em mundo que pode ser igual ou diferente da Terra. E pode também existir um planeta igual ao nosso, mas com curso diferente da história.

E em um delírio coletivo os espeleólogos se imaginaram em um universo paralelo onde todos estariam mortos e vivendo uma aventura no melhor estilo Caverna do Dragão, as cavernas seriam um portal entre o mundo dos mortos e a realidade.



Expansão e criação de novos universos: o X vermelho indica o fim da inflação (Fonte da imagem: Starts With a Bang).


Seguindo essa linha de pensamento, tomei a liberdade de comparar os personagens do desenho animado Caverna do Dragão com os personagens da aventura espeleológica em Paripiranga. Embora os eventos sejam reais, qualquer semelhança entre os personagens do desenho e os reais são mera coincidência e não intencional.

Caverna do Dragão foi um clássico dos desenhos animados da década de 80.


Amantes de cavernas sempre se encontram para trocar as experiências e aprendizado. Seja em uma caverna ou mesa do bar. E principalmente para conhecer paisagens, pessoas e realidades distintas da nossa. 

Desta vez, o convite foi feito pelo GMSE, Grupo de espeleologia de Paripiranga na Bahia, que estava organizando pela quarta vez o evento denominado Espeleoamigos.


A Sociedade Espeleológica Azimute (SEA) participaria pela primeira vez do evento. Por maldade do tempo, um evento tão importante contou com a menor expedição feita pelos nossos integrantes em quase 2 anos. Foram apenas 5 integrantes do grupo.



Integrantes da SEA em Paris: Mateus Henrique; André Vieira; Jogean Silva; Ágata Correia e Paulo Raimundo.


Chegando a Paripiranga, cidade carinhosamente conhecida como Paris, Fomos recepcionados pelo Fernando Andrade que era nosso principal contato com o GMSE. A nossa expectativa era que Fernando iria nos guiar em todas as Cavernadas. Mas tal qual o Mestre dos Magos ele aparecia apenas para dar sugestões ambíguas e desaparecia na hora das cavernadas. No desenho animado, o mestre dos magos é o guia cósmico que cuida dos heróis durante toda a jornada. Ele é que tem a chave que liga os dois mundos. Para dar o realismo mágico à história, a caverna do Bom Pastor é trancada por um portão gradeado de aço. Adivinha "Quem tem as chaves que abrem essa prisão?"

Fernando Andrade nosso Mestre dos Magos


A primeira cavernada que participamos no Espeleoamigos foi realizada junto com a turma de Biologia da UFAL no dia 06 de setembro. Conhecemos algumas grutas pequenas e sem dúvidas a mais interessante foi à gruta do Fim do Morro do Parafuso. Que é um paraíso para biólogos com tanta diversidade biológica.

Foto Oficial da expedição Fim do Morro do Parafuso. Com o pessoal da UFAL.
Tityus stigmurus. Um dos muitos perigos biológicos entre aranhas armadeiras e carrapatos venenosos encontrados nesta caverna. 
Espeleotemas na parte da caverna que começam os abismos ainda  inexplorados. Foto: Mateus Henrique.


A noite foi de palestras e apresentações. Conhecemos nessa noite o Bombeiro Weslley Santos. Na aventura do dia seguinte seria Weslley a coordenar as técnicas verticais para traspor o dificílimo abismo no Meio do Morro do Parafuso. 

Com sua preocupação intensa com a segurança dos presentes e pela importância que Weslley dava ao medo em situações de risco, vou relaciona-lo com o cavaleiro Eric.

Weslley/ Eric 

Em caverna do Dragão, Eric tem personalidade complexa, ele sempre tem resposta sarcástica para tudo e as vezes pode parecer covarde, mas, em vários episódios é ele quem confronta o principal inimigo o Vingador. Sua arma não é de ataque e sim um escudo que defende de qualquer coisa ele e todos os que estão próximos. 

Após a montagem das cordas nos Abismos, chegou a hora da esperada descida no abismo que consiste numa primeira descida de 30 m e após alguns metros de caminhada nova descida de 15 m. O primeiro a descer foi o cômico e destemido Hércules do grupo GMSE; Hércules não apenas pelo biotipo, mas principalmente pelas mágicas que faz com seu equipamento de vertical improvisado é o nosso mago Presto. No desenho animado o personagem é descrito como trapalhão e inseguro, mas que dá conta do recado quando exigido.

Presto/ Hércules.

O segundo a descer o abismo após Hércules abrir os caminhos foi integrante da SEA Mateus. Como mais novo do grupo e de personalidade temperamental Mateus tem como analogia o bárbaro Bobby.

Bobby/Mateus


Bobby muitas vezes inconsequente expõe a si e às vezes põe o grupo em risco devido a seu ímpeto em querer enfrentar qualquer tipo de desafio. Um paralelo entre os dois ficou nítido quando Mateus inadvertidamente desceu um quebra corpo sem saber o que encontraria no abismo conhecido como Cu do Morro do Parafuso.


Junto com a SEA e o GMSE, também marcou presença nesta aventura o grupo Centro da Terra de espeleologia. Representando o estado de Sergipe, com apenas dois membros Elias e Jéssica.

Elias é o membro mais velho do grupo e tem instinto natural de liderança. Foi graças a Elias e Hércules que fizemos a segunda descida. E também foi crucial na cansativa técnica de ascensão dos abismos. 

Na caverna do Dragão o personagem que mais se aproxima de Elias é Hank: Apesar de líder indiscutível do grupo tem inseguranças e seu maior medo é cometer um erro que coloque o grupo em risco.

Jéssica como a única morena da Expedição é a Diana do desenho. A acrobata do grupo é capaz de deixar seus inimigos tontos. Seu maior medo é ficar muito velha e não conseguir mais utilizar suas habilidades.

Jessica e Elias / Diana e Hank.


Assim como no desenho, a nossa aventura contava com outra mulher. Se Jéssica do grupo CT representa a Diana, Ágata da SEA representa a Sheila. Caracterizada por estar sempre solicita para ajudar os que tiverem machucados e tristes. Seu maior medo é o de ficar só.

Sheyla/Ágata


Finalizando nossa Analogia, falta dois personagens emblemáticos envolvidos em muitas teorias uma vez que o desenho não foi finalizado. O personagem Vingador que representa o maior inimigo do mestre dos Magos e o Unicórnio “Uni” que apesar de não poder falar é muito expressivo e em algumas ocasiões é responsável por risadas inesperadas.

Não deixa de ser curiosa a coincidência de que Paulo (SEA) é principal crítico das cavernas sob domínio de Fernando (Mestre dos Magos). E não é que antes de entrar na gruta mágica do Bom Pastor . Paulo, doravante com a alcunha de Vingador, foi flagrado em um encontro suspeito com um pequeno animal que berrava tal qual a Uni e fez alguns de nós ter ataques de risos.

Vingador/Paulo


Brincadeiras a parte, as cavernas trazem em si uma simbologia muito expressiva e diversa, pode nos remeter ao útero materno ou a um portal que leva a outras dimensões.
A verdade é que a caverna faz parte deste cosmo e da natureza e, portanto segundo (Eliade,2001) no livro o "Sagrado e o Profano". Não há homem moderno seja qual for o grau de sua irreligiosidade, que não seja sensível aos encantos da natureza.


Em nome da Sociedade Espeleológica Azimute quero parabenizar a todos envolvidos direta e indiretamente no IV Espeleoamigos e fazer o convite oficial para o V Espeleoamigos a ser realizado em 2016 na cidade de Campo Formoso - Ba.


A espeleo e a amizade andam de mãos dadas.

5 comentários:

  1. Não poderia haver melhor texto para descrever a fantástica aventura vivida durante o Espeleoamigos. Parabéns a todos! E que venha o V Espeleoamigos em Campo Formoso!

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  2. Que maravilha André, muito legal mesmo .. em nome do GMSE só temos a agradecer a todos voçes que estiveram presente neste Espeleo Amigos 2015 .. E como Elias falou que venha Campo Formoso e Fim do Mundo kkk .. um forte abraço

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